Num contexto de desafios para a indústria turca, que registou uma queda de 6,9% nas exportações de vestuário em 2024, a oitava edição da feira aumentou o número de visitantes e recebeu mais de 18 mil compradores de 114 países.
Realizada entre 20 e 22 de agosto, a Istanbul Fashion Connection (IFCO) reuniu 256 expositores, cerca de 10% menos do que na edição homóloga do ano passado, distribuídos por 25 mil metros quadrados, abrangendo o vestuário de senhora, homem e criança, roupa interior e desportiva, denim, peles, calçado e vestuário de cerimónia.
Nos três dias, o certame recebeu 18.814 visitantes de 114 países, dos quais 43% internacionais, refletindo um crescimento de 29% face à edição de agosto de 2024.
Mustafa Paşahan, vice-presidente da İHKİB (Associação de Exportadores de Vestuário de Istambul) destaca a importância do evento, que «em apenas quatro anos, se tornou uma verdadeira história de sucesso na indústria da moda internacional. Desde o seu lançamento, em 2022, a feira recebeu quase 3.000 expositores e 195.000 visitantes de 165 países da Europa, Médio Oriente, Norte de África, Ásia Central e outras regiões, posicionando Istambul como um centro dinâmico no calendário global da moda. O aumento de 29% no número de visitantes internacionais evidencia a relevância mundial da nossa plataforma».
A visão das empresas turcas
O espaço “The Core” acolheu 24 designers turcos, que apresentaram as suas mais recentes coleções. Gökhan Yavaş, fundador da marca Gokhanyavas, conhecido sobretudo pela moda masculina, mas com muitas propostas unissexo, abriu as portas ao público feminino pela primeira vez. «Normalmente, as peças são unissexo, que podem ser usadas tanto por homens como por mulheres. Mas, desta vez, mostrei um pouco do meu toque nas peças femininas, a pedido das clientes», explica o designer, em declarações ao Portugal Têxtil.
Quanto à presença na IFCO, Gökhan Yavaş revela que a feira é essencial para o seu posicionamento internacional. «Na verdade, este é o meu ponto de encontro com a imprensa e os compradores internacionais. Já tenho 37 anos, mas estou no setor há pouco tempo», referindo que o certame oferece uma visibilidade que dificilmente teria apenas a partir do seu atelier. Na esfera internacional, o designer turco indica estar em negociações com uma boutique na zona de Shoreditch, em Londres, embora o acordo ainda não esteja concluído.
Do lado das marcas já consolidadas, a Setre, com 52 anos de atividade e destinada exclusivamente ao público feminino, exporta para 96 localizações, incluindo EUA, Rússia, países do Golfo da Arábia e África, e com uma forte atuação em mercados europeus, como o da Alemanha, Países Baixos e França.
A confeção é realizada inteiramente na Turquia, utilizando tecidos nacionais e importados da Coreia do Sul e, em menor escala, da China. «Cerca de 30% a 40% das nossas coleções utilizam tecidos sustentáveis», principalmente a pedido de «países da Europa e dos EUA, que querem sustentabilidade», indica Hikmet Ünal, vice-presidente e segunda geração da Setre.
Embora a exportação represente 90% do volume de negócios da marca, o vice-presidente da Setre refere as taxas norte-americanas não afetaram as receitas, tendo em conta as suas «roupas com valor acrescentado», com designs diferenciados e tecidos de qualidade, que «protegem a marca».
A QU Style, especializada na produção de malhas e com uma fábrica no norte da Turquia, em Samsun, com 150 trabalhadores, produz 10% para private label. Com 12 anos de atividade, a empresa está a estudar a expansão da produção para a China em 2026, com vista a reduzir os custos. «Há coisas que não podemos fazer a partir da Turquia, como por exemplo alguns materiais especiais e técnicos, que são muito caros», refere Ömer Faruk Karadağ, diretor-geral da QU Style. Além disso, Ömer Faruk Karadağ sublinha os crescentes desafios logísticos e fiscais, apontando que «se fizer tudo na China e trouxer para a Turquia, há demasiados impostos. Se fizer na China e vender diretamente para a Europa, é mais barato do que pela Turquia».
No que respeita às vendas, a QU Style vende atualmente 80% da produção para a Turquia e exporta 20% para mercados internacionais, incluindo países do Médio Oriente e, nos últimos dois anos, da América Latina, como a Colômbia, Costa Rica e Panamá.
Fundada em 2000, a Fonem produz cachecóis, gorros, meias e luvas nas suas instalações, em Istambul. Metade da produção destina-se à marca própria e os restantes 50% seguem para private label, para marcas turcas como a LC Waikiki e a Koton. Com 60% do negócio concentrado no mercado doméstico e 40% em exportações, a Fonem marca presença em países europeus como a Alemanha, Espanha, Dinamarca, França, Reino Unido e Portugal, sendo que no mercado ibérico se destacam as vendas de meias de lã e gorros.
Apesar de reconhecer a existência de concorrência internacional, Murat Koca, fundador e dono da Fonem, considera que a qualidade turca é um fator diferenciador. «Acho que em Espanha, assim como em Portugal, quando vemos na etiqueta que é fabricado na Turquia, sabemos que a qualidade é muito melhor do que a da China ou do Bangladesh», afirma.
Os números da indústria
De acordo com a İHKİB, o volume de exportações da indústria têxtil e do vestuário da Turquia desceu 4,8%, totalizando 27,4 mil milhões de dólares (cerca de 23,4 mil milhões de euros) em 2024. Já o setor do vestuário, sozinho, sofreu um decréscimo de 6,9%, devido à redução da procura em vários mercados relevantes e às mudanças nas preferências dos consumidores a nível global.
62,1% das exportações de vestuário, apesar de ter sofrido uma descida de 6,8%, em comparação com o período homólogo do ano passado. A Alemanha continua a ser o principal mercado da Turquia, totalizando 1,62 mil milhões de dólares, seguida dos Países Baixos, Espanha, Reino Unido e França. Ao contrário destes cinco países, onde se verificaram decréscimos nas exportações da Turquia nos primeiros seis meses do ano, no Cazaquistão, Iraque e Polónia, as exportações turcas aumentaram 19,9%, 3,8% e 13,7%, respetivamente. «O Cazaquistão e o Iraque estão a desenvolver-se, a superar a recessão e os problemas económicos. Ao mesmo tempo, houve uma feira em julho no Cazaquistão, na qual participaram 75 empresas da Turquia. Assim, à medida que superam os seus problemas internos, vão lidando com o comércio internacional», aponta Mustafa Paşahan.
Apesar de reconhecer a diminuição na adesão global às feiras, Mustafa Paşahan indica estar confiante que de «daqui a dois anos, a IFCO vai ser o tipo de certame em que toda a gente quer estar presente e fazer parte». A próxima edição da feira turca está agendada para 4 a 7 de fevereiro de 2026.
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